sábado, 13 de junho de 2015

Até breve, bebê lindo!!


Meu bebê lindo,

Eu nunca tremi ou fiquei tão nervosa para escrever um texto como eu estou agora. É que de todos os rituais de despedida, além de perder você de vista num caixão branco, esse último post é o que está mais me machucando. Sim, meu amor....você se foi, fisicamente, apenas fisicamente. Você foi embora enquanto eu escrevia o penúltimo texto aqui no blog. Eu comecei a escrever umas 09:30h, publiquei às 09:51h e os anjos te levaram por volta das 09:45hs do dia 30 de abril de 2015. Eu publiquei, chorei e fui orar em seu quarto. Minutos depois, o telefone tocou para eu ouvir a pior notícia da minha vida.

Eu estava sozinha em casa quando Dra Karla me ligou. Ela pediu para conversar comigo pessoalmente e no mesmo instante eu sabia que você havia ido embora. Nós choramos juntas ao telefone, eu desliguei e gritei como nunca fizera antes. Minha dor explodiu através da minha voz e talvez toda a vizinhança tenha ouvido o meu clamor por forças a Deus. Seu pai já estava no hospital contigo, mas ele não teve coragem de me ligar. Eu e o seu pai havíamos escolhido duas roupas em especial para você. Uma roupa você usaria quando saísse da UTI e fosse para o quarto e a outra quando saísse do quarto e fosse para casa. Eu peguei a roupa que escolhemos quando você fosse pra casa, um body do Pearl Jam, um macacão branco, luvas e meias vermelhas e levei comigo.

Eu fui para o hospital com seu tio e padrinho, Estevinho. O mesmo caminho que eu fiz durante 157 dias, sem exceção, mas que me pareceu tão estranho de tão perdida que eu me senti. Eu tentei me controlar na rua e manter a calma, mas ao chegar naquele 4º andar e tocar o interfone da UTI, eu percebi que aquela seria a última vez e desabei. Quando eu entrei na UTI, eu vi você nos braços do seu pai. Aos prantos, ele se levantou e me deu você e nós choramos e nos abraçamos contigo entre nós. Dra Karla chorava muito, Lidiane....todas as meninas estavam muito abaladas. Você teve uma parada cardíaca e fizeram de tudo pra te reanimar, mas a sua missão havia se cumprido e era chegado a hora de você partir.

Foi muito difícil ter você em meus braços daquela forma, mas eu não queria deixar de te sentir. Nenhum sangue, secreção ou protocolo importava pra mim. Por isso, pela segunda e última vez, eu troquei sua roupinha. Em seguida, a sua tia Soraya chegou chorando muito. Eu só lembro de que eu disse a ela que estava tudo bem e que ela cuidasse da nossa mãe. Eu fiquei com muito medo de mainha passar mal de novo. Não demorou muito para que os seus avós chegassem e assim todos nós saímos da UTI com você. Eu sonhei tanto com a sua saída dali, Cauê. Eu parei de contar quando completaram 30 altas de bebês naquela UTI. Todo mundo chegava, todo mundo saía e só nós dois continuávamos ali. Eu imaginei tantos cenários, tantas datas, mas nunca passou pela minha cabeça sair com você de lá assim. Eu precisei de muita "entrega, força e fé", o título do texto que eu tinha escrito a poucas horas e eu sei que muitos anjos de luz estavam ali com a gente. Eu tenho certeza disso.

Eu, seu pai e sua avó pedimos para que deixassem a gente colocar você no caixão. Nós te enfeitamos com flores e você saiu do hospital no colo do seu pai. Nós decidimos cremar você e jogar as suas cinzas no mar. No seu velório, todos vestiram roupas claras, filho e foi tudo muito dolorido, bonito e pacífico. No teu rosto havia um semblante de paz, um sorriso discreto tão lindo, meu amor, eu juro. Eu não fui a única que percebi isso. Eu lembro que falei para as pessoas que estavam lá antes do término da cerimônia, mas não sei ao certo o que eu disse. Eu só sei que não houve lamentações. Não houve revolta. Houve entrega, força e fé em Deus.

Cauê, eu sei que a gente se escolheu. Eu sei que nós assumimos essa missão juntos. Foram 157 dias de muita luta, amor e sofrimento, mas nós conseguimos, bebê lindo. Aquilo que prometemos a Deus e a nós mesmos enquanto espíritos em evolução, eu sei, nós conseguimos. E a sua missão foi tão além, meu amor. Você tocou e mobilizou centenas de corações, aproximou e reaproximou tantas pessoas de Deus, fortaleceu a fé de tanta gente. Eu e o seu pai ouvimos muitos relatos sobre isso, Cauê. Por outro lado, a saudade dói demais. A necessidade de tocar, cheirar, beijar, ver você ainda é muito, muito forte, filho. Mas eu sei que a vontade de Deus é "boa, perfeita e agradável" e Ele nos capacitará - como tem feito - a viver, fisicamente, longe de você. 

Uma certeza eu tenho: esse blog não foi em vão, bebê lindo. Eu sei que o seu anjinho da guarda vai dar um jeito de ler cada um dos textos pra você. Quem sabe Deus não me deixa fazer isso em sonho? Não seria ótimo?! Nos meus planos, eu leria os textos do blog pra te colocar pra dormir enquanto você fosse um bebê. Anos depois, eu te daria o blog no formato de um livro com os desenhos de alguém (eu acho que pediria a Guga ou a Lu de Mari), pois eu mal sei desenhar um gato. Isso seria quando você completasse uns 6 ou 7 anos e soubesse ler. E aos 18 anos, eu te daria ele novamente, só que um livro mais moderno para você ler e apreender cada texto num outro momento da sua vida, mas com o mesmo objetivo: sentir o quão guerreiro e amado você foi e sempre será.

Hoje faz exatamente um ano que você entrou na minha vida, Cauê. No dia 13 de junho de 2014, o resultado de um exame mudaria para sempre a minha cabeça, a minha alma e o meu coração. Você foi a melhor coisa que me aconteceu. O meu melhor passado, o meu melhor presente, o meu melhor futuro. Obrigada por tudo, bebê lindo. Por cada sorriso, por cada toque, por cada olhar, por cada gesto seu. Eu fiz o melhor que eu pude, meu amor. Eu fiz de tudo pra ter você aqui e faria novamente, meu amor. Mas os planos de Deus eram outros e, por mais duro que seja aceitar e entender, Ele faz tudo certo, filho.

Desculpa, Cauê, mas a cada frase que eu digito, eu sinto que tá ficando mais difícil de escrever. As lágrimas não me deixam ver o teclado e eu já não consigo me concentrar. Um filme passa pela minha cabeça com tudo que vivemos e com tudo que eu tanto sonhei viver ao seu lado. Dói tanto, meu amor, tanto. Por isso, para a gente não alimentar a dor da despedida desse blog, mainha vai ficando por aqui com a alegria e a emoção do vídeo que eu fiz quando eu e seu pai demos a notícia para os seus avós  de que você estava chegando. Nessa época, eles estavam morando com a gente porque o apartamento deles estava em reforma. Esse é um momento que eu vou guardar para sempre na memória do meu coração.

Eu não quero que você pense que estou encerrando um ciclo hoje, filho. Eu não deixarei de conversar contigo e, talvez, até de escrever pra você. O que muda é que agora não será mais por aqui, mas nós estaremos sempre juntos em pensamento e sentimento. Talvez eu escreva pra você na areia da praia ou numa folha de papel pouco antes de dormir...mainha sempre dará um jeito de estar por perto. Eu te amo, meu Cauê. Eu te amo muito e guardarei esse amor bem aqui, dentro do meu peito, para sempre, enquanto espero o dia de a gente se reencontrar para vivermos plenamente esse amor longe de qualquer tipo de dor.

Eu nunca te direi "adeus", meu filho. É só um até breve, bebê lindo... até breve!!






quinta-feira, 30 de abril de 2015

Entrega, força e fé



Meu bebê lindo,

Hoje faz um mês que eu estive aqui no blog. Antes mainha escrevia mais, não é? É que aconteceu tanta coisa triste e difícil, amor, que me faltava ânimo ou até palavras para vir aqui. Daí ontem, ao colocar você pra ouvir "thin air", do Pearl Jam, aquela música que estava tocando quando você mexeu pela primeira vez na barriga de mainha, eu me lembrei que  " ser feliz e verdadeiro é uma missão que estamos assumindo juntos". E eu precisava vir aqui e ser verdadeira com você, pois feliz eu já sou.

Além de todos aqueles desafios que eu te falei no último texto, nessas últimas semanas nós descobrimos que você tem um problema para engolir o leitinho que te alimenta e por isso teria que fazer uma cirurgia pra comer através de uma sonda, tipo um canudinho, direto no estômago. Essa cirurgia poderia ser simples, mas por causa de um refluxo ( quando a comida fica voltando) muito grave, a sua cirurgia seria grande e delicada porque sua barriguinha linda teria que ser toda aberta.

Quando a gente foi fazer o exame pra descobrir tudo isso, nós tivemos que sair do hospital de ambulância e ir pra outro hospital. Foi tão estranho, filho. Doeu tanto em mim, pois eu esperava que a sua primeira saída do hospital fosse para casa, esse era o sonho. Mas nem tudo acontece como queremos e sim como necessitamos, pois Deus, filho, ele tá no controle de cada segundo de nossas vidas e sabe o que é melhor pra gente em relação a tudo. Pelo menos você viu o sol, rapidamente, mas viu.

Ao voltarmos do exame, Dra Karla, sua neonatologista e nossa anja da guarda, preparou uma surpresa pra gente e, pela primeira vez na UTI do hospital que você está, permitiram que um bebê ficasse num berçinho dentro da neonatal. Ela achava que já estava na hora de você sair da incubadora. Sua avó trouxe umas roupinhas e lençóis e ficamos lá fora esperando elas preparem você. Quando eu entrei e te vi naquele berço e todo vestido, lindo, eu desabei, filho. Desculpa a mamãe, Cauê, mas foi muito forte pra mim. 

Todas as vezes que eu via aquele berçinho entrar na UTI, eu dizia "lá vem o berçinho da alegria". Ele que levava os bebês para fora da  UTI, para os braços de suas mães. Quando eu te vi ali e sabendo que não era pra você sair e sim pra ficar e logo em seguida fazer uma cirurgia tão séria, eu desabei. As enfermeiras e técnicas fecharam a UTI e não deixaram ninguém entrar. Somente a sua avó e todas elas ficaram do meu lado me apoiando, beijando e abraçando. Foi uma energia de amor sem igual. Mais um sonho desfeito, filho, mas nós estamos aqui para sonhar infinitamente e por isso novos sonhos podem ser construídos e realizados.

No dia seguinte você completou 5 meses de vida. Foi na sexta-feira passada. Eu precisei recuperar a energia e não cheguei às 07h da manhã no hospital, como tenho feito todos esses meses. Fomos eu e sua avó. Há mais de um mês ela tem ido quase que todos os dias comigo. Se ela não pode ir, vai a sua tia Aya, seu padrinho Estevinho, seu avô Ary...eles estão fazendo de tudo para não me deixar sozinha. É que eu fui diagnosticada com depressão, que é quando a pessoa está muito, muito, triste, e aí precisa de ajuda de médicos e de uns remédios. Mas não se preocupa que mainha vai tirar isso de letra. Então, quando chegamos no hospital você estava absurdamente lindo e todo sapeca. Eu comprei um balãozinho de bola de futebol para comemorar os 5 meses e coloquei no teu berçinho, ficou um charme. Você sorriu tanto nesse dia, você é um bebê muito risonho e que adora que eu passe óleo na sua cabeça e beije sua boca. E eu amo fazer isso, amo!!!

Saímos de lá só à noite e eu mal podia imaginar o que estava por vir. Durante a madrugada, por causa do seu refluxo grave, você vomitou em três dietas seguidas e é possível que em alguma delas o leitinho tenha voltado e entrado em seus pulmões. Com isso, você teve febre de 40 graus, não conseguiu mais respirar e precisou ficar em coma induzido, que é dormindo sem parar. Você agora está respirando com ajuda de aparelhos e está dormindo para não sofrer nada. Sem dúvidas nenhuma, sábado, 25 de abril, foi o pior dia da minha vida. Quando eu cheguei de manhã no hospital, a médica de plantão, a doce Dra. Laurice, conversou comigo primeiro e eu fui até você. O berçinho foi retirado e você voltou à incubadora. Quando eu te vi, eu desmaiei em plena UTI. Desculpa, filho. Eu sei que você pode sentir minha energia, mas ver você naquelas condições foi demais pra mim. Sua avó também passou mal e tivemos que levar ela pra emergência do hospital. Ela segurou tudo enquanto pôde para me ajudar, mas ela te ama demais, bebê lindo e está sofrendo muito também.

Em menos de 24 horas, o nosso mundo virou de cabeça pra baixo. E desde então você continua na mesma situação, mas vencendo pequenas grandes batalhas. Seus rins pararam de funcionar por um dia, mas voltou. Seu estômago teve hemorragia, mas está quase sem nada. E o principal, o que eu mais pedi, você não está sofrendo nada. Seu corpo está sim, muito machucado, mas sei que seu espírito está se aproveitando do cordão de prata para passear por aí e curtir a vida na espiritualidade enquanto os médicos e o tempo tratam do seu corpo.

Seu pai tem ido ver você todos os dias antes de trabalhar, eu tenho ido todas as tardes com a sua avó. Eu ainda choro muito ao seu lado e sei que isso não é bom pra você, por isso estou esperando "me acostumar" a te ver assim, se é que isso é possível, para voltar a passar o dia inteiro contigo, seja como for. Hoje mesmo eu vou levar um livro pra ler pra você, ele se chama "o livro da gratidão". Eu comprei vários livros pra você há algum tempo, mas não levava pra lá porque eu queria era ficar contigo nos braços, te beijar, abraçar, fazer exercícios de estimulação.....

Eu tô morrendo de saudade de você, Cauê. Do seu sorriso, dos seus biquinhos, de dar banho em você, de dar cheiro no teu pescoço e você me empurrar...mas eu consegui, filho. Durante esses cinco meses, eu questionei muito, tive raiva, revolta, tristezas sem fim, mas eu consegui aceitar, de todo o meu coração, a vontade de Deus. Eu entreguei a sua vida nas mãos dele como eu ainda não havia conseguido fazer. Ele sabe de todas as coisas e está no controle de tudo. Não é a toa. O seu sofrimento, o meu, o do seu pai. Não é a toa. Você está mobilizando dezenas de pessoas em correntes de oração e fé. Eu mudei, eu aprendi muito com você, o seu pai, sua avó também.

Nós estamos em paz, Cauê. Sofrendo muito, muito, mas em paz com qualquer que seja a vontade de Deus. Por isso, eu e seu pai temos lhe dito todos os dias: reaja e lute se for da vontade de Deus ou vá em paz, meu amor, se for da vontade de Deus. Não foi nada fácil pra gente chegar no entendimento que devíamos agir assim, mas muitos espíritos amigos estão nos amparando e nos orientando. Deixamos de lado o nosso egoísmo de te querer de qualquer jeito para fazer o que é certo, entregar na mão de Deus.

Isso não significa que desistimos de você. Eu nunca deixei de ver você um único dia se quer nesses 157 dias de luta. E não deixarei. Eu estarei do seu lado para o que der e vier porque, como o Pearl Jam disse pra gente, "ser feliz e verdadeiro é uma missão que estamos assumindo juntos", e nós vamos cumprir essa missão até o fim, mesmo que esse fim seja apenas o começo.

Eu te amo, Cauê. 
Mais do que tudo nessa vida, mais do que eu podia imaginar amar um dia, eu te amo.


segunda-feira, 30 de março de 2015

Literalmente, especial

Meu bebê lindo,


Eu demorei muito pra te escrever esse texto porque mainha precisava de um tempo. Eu e seu pai tínhamos decidido só te contar por aqui o que fosse bom, mas as semanas que passaram não ajudaram muito a cumprimos essa promessa. Por outro lado, após pensar um bocado, eu decidi que não quero que você encare a sua vida só com fantasia, pois o mundo real pede muito da gente e talvez seja melhor escolher um jeito simples de te colocar nesse mundo real do qual eu queria tanto te proteger.

Hoje eu vim te dizer que você é especial, meu filho. Literalmente, especial porque tem necessidades especiais. Já sabemos que você tem catarata congênita (um desafio para enxergar), deficiência auditiva (um desafio pra ouvir), rigidez muscular (um desafio para deixar as pernas e braços mais soltos) e um grau leve de epilepsia (um desafio para não tremer e se machucar).

Cauê, eu tenho muita esperança de que quando você puder ler esse texto, todos esses desafios estejam superados e você é quem nos dá essa esperança todos os dias. Nada disso são problemas. Problemas, filho, é algo que não tem como a gente resolver, como a gente tentar mudar. Tudo que você tem são desafios que serão vencidos com muito amor e dedicação de seus pais, avós, tios e muitos amigos verdadeiros que tem nos ajudado de todas as formas.

Da catarata você será operado e usará óculos desde bebê e ficará, sei lá como, ainda mais lindo de mamãe. Da deficiência auditiva você usará aparelho e será muito estimulado com muito Pearl Jam....rsrsrsrs. Da rigidez muscular, você já faz fisioterapia e terapia ocupacional e vai ficar ótimo, eu tenho certeza. E da epilepsia, até hoje você nunca teve uma crise clássica, foi um só um exame que mostrou isso, nada que um remédinho não resolva, relaxe.

Eu não vou mentir pra você, meu amor. Doeu muito, absurdamente muito, saber cada um desses desafios que teremos pela frente. Como seu pai disse, foi um soco atrás do outro, mal tínhamos tempo de nos recuperar e vinha outro diagnóstico. Eu cheguei bem perto de enlouquecer, de me entregar à tristeza, à raiva, à revolta, mas graças, principalmente, ao seu pai e sua avó Vera que não desistiram de mim e ao amor que eu sinto por você que é muito maior que o meu medo, eu reagi e estou aqui.

Eu sei que desde esse momento que estou escrevendo esse texto até o dia que você ler ele, muitas dores e alegrias virão, pois o mundo real é assim. Não sabemos do dia de amanhã, filho. Tudo que estão dizendo que você terá ou que você não poderá fazer são só palavras. O médico dos médicos é papai do céu e ele pode mudar tudo num piscar de olhos. Nós estamos unidos e prontos para nos dedicarmos a você de corpo, alma e coração.

A gente vai conseguir, Cauê. Confie em Deus, confie em mim, confie no seu pai, na sua família e nos amigos verdadeiros. Por você, eu abro mão de tudo, por você eu entrego a minha vida, mas nada faltará para te dar a melhor qualidade de vida que você puder ter. Você pode até não vir a ser um bebê saudável, mas com certeza será um bebê, uma criança muito, muito feliz. Isso eu prometo a você.

Agora vamos sair daquela UTI!!! Esse é o primeiro passo, esse será "o começo do fim das nossas vidas", e ele vai chegar.

Eu te amo, bebê lindo. Eu te amo mais do que leite condensado com ovomaltine, eu te amo mais do que tudo em minha vida.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Corrente do bem: #ParaTeFazerSorrirCauê



Oi bebê lindo,

A última vez que eu te falei como estão os seus dias na UTI foi no começo de fevereiro. Eu deveria te contar hoje sobre a décima, décima primeira e décima segunda semanas, mas nós temos um pacto de só falar por aqui o que for bom e positivo, não é? E fevereiro foi um mês muito difícil, filho. Talvez o seu pior mês até agora. Semanas de muitas dores, angústias e por isso, eu decidi "pular" esses dias e somente te contar o que nos manteve firmes e confiantes durante esse período: uma corrente do bem chamada #ParaTeFazerSorrirCauê.

Tudo começou com a chefe da mamãe, a tia Rose, ou Rosinha. Nós trabalhamos juntas há anos e temos uma ligação, um laço de amor e de amizade muito forte. Pela intimidade que temos, Rosinha sempre me ligava perguntando de você e um dia ela me perguntou como estavam os gastos da gente. Eu contei a ela e um belo dia ela me ligou e disse que "cansou de orar" e que precisava fazer algo por mim. E assim começou essa corrente, Cauê. Ela ligou para outras amigas de trabalho e depois para outras amigas de profissão, Dora e Vida, e elas lançaram uma campanha no facebook. Será que ainda existirá facebook quando você puder ler isso?! Se não, depois eu te falo sobre essa rede social (eu e seu pai nos conhecemos através dela...rsrsrs).

Após essa campanha, um outro amigo nosso, que na verdade era apenas um colega, o Vinicius, de Porto Alegre, num gesto incrível de solidariedade e amor, juntou alguns de seus itens de colecionador e fã do Pearl Jam e postou no facebook que estava vendendo esses itens e todo o dinheiro arrecadado seria para ajudar no teu tratamento. Filho, eu não me contive e chorei muito de emoção ao ver aquilo. Como eu te disse, até tudo isso acontecer, o tio Vinicius era só um colega de shows do Pearl Jam, hoje ele é um grande amigo irmão e que seremos eternamente gratos e queremos ter, seja como for, sempre por perto. Será que você já conheceu o filho dele?! Durante essa campanha, a esposa dele estava grávida do Murilo. Tomara que vocês já sejam amigos, filho.

Essa venda de itens do Vinicius foi um sucesso e ele decidiu ir além. Ele lançou a campanha numa página de colecionadores de adesivos do Pearl Jam, nos Estados Unidos, e para nossa surpresa, Cauê, pessoas que nunca nos viram, nunca ouviram falar de nós, aderiram à campanha organizada pelo Scott e o Andy de uma forma nunca imaginada. Dezenas de pessoas começaram a doar os seus itens do Pearl Jam (camisas, CD's, adesivos, livros, palhetas de guitarra, pôsteres...) e foi organizada uma rifa que também foi um sucesso. O Andy teve dois filhos gêmeos que ficaram um tempo internados numa UTI neonatal e ele sabe bem o que eu e seu pai estamos vivendo, ele e o Scott foram muito incríveis com a gente, bebê lindo. E muitas pessoas nos escreveram palavras de força, fé e esperança. Pessoas antes completamente desconhecidas, mas que através do Pearl Jam, da iniciativa do Vinicius e da organização e apoio do Scott e do Andy somaram na corrente positiva para sua vida.

Logo em seguida, a Iza, amiga da mamãe de Brasília que me ajudou muito no teu chá de bebê daqui de Recife (ela veio de Brasília só pra participar da festa) lançou uma campanha para sortear um kit festa e saiu ligando para vários amigos do trabalho para contar a nossa história e nos ajudar. A tia Iza é muito apaixonada por você, meu amor. Também teve a Viviane, amiga do seu pai de São Paulo, ela nos ajudou sorteando um kit de cosméticos entre os amigos. Ela foi muito querida com a gente, filho.

Dias depois, o Luiz, esse com certeza você conhece e, de alguma forma, convive, nos procurou dizendo que queria nos ajudar. Ele decidiu rifar sua primeira guitarra para também ajudar no seu tratamento num ato de solidariedade e desprendimento que mexeu muito comigo e com o seu pai. O tio Luiz é nosso padrinho de casamento e eu já tinha dito a ele e a tia Clau que se a gente pudesse escolher padrinhos pra você de São Paulo seriam eles. A tia Clau também tem uma contribuição enorme no meu relacionamento com o seu pai, mas isso é outra história...rsrsrs. Então o tio Luiz lançou a campanha também no facebook e muitos amigos, colegas e pessoas que não tínhamos contato a muito tempo começaram a participar. Foi tão bonito, filho. A gente recebeu tanto carinho, tanto apoio durante a rifa. Foi tão especial perceber, sentir o quanto você era amado por tanta gente. Eu sempre imaginava que tinha alguém orando, pensando, vibrando por você tamanha quantidade de pessoas que estavam participando.

No sábado passado, 28/02, os nossos amigos de São Paulo organizaram um evento para fazer o sorteio da rifa e arrecadar mais dinheiro para você. O Vâmio, o Roger, o Sergio Vedder, o Guilherme Budri e o pessoal da banda No Code foram muito bacanas com a gente. Dezenas de amigos do seu pai e de mainha estavam lá só por você. Só pra te fazer sorrir, Cauê. Eu juro que pude sentir a energia daqui. Nessa noite, o Daniel, vocalista da No Code, dedicou uma música pra você, Given to fly. Eu tenho certeza que, ao ler esse texto, você deve amar esse som. É uma das minhas músicas preferidas e eu escutei muito quando estava grávida e quase todos os dias eu canto ela pra você na UTI. Olha que lindo:




O sorteio foi realizado e quem ganhou a guitarra foi o Sérgio, Bó. Ele é amigo da sua tia Aya desde a adolescência e eu também espero que ele continue em nossas vidas por muito tempo. Ele é um cara muito, muito especial. Ao saber que ganhou a guitarra, Cauê, o Bó decidiu doá-la pra você. Eu fiquei muito mexida com aquilo, mas eu e o seu pai já tínhamos uma torcida declarada pra que a guitarra ficasse com o tio Luiz. Lembra que eu te falei que essa foi a primeira guitarra dele?! Pois bem, a gente quis deixar ela com o Luiz, mas num gesto sem igual, o Luiz decidiu que ela deveria mesmo ficar com você. Bó e Luiz te deram ela como uma lembrança física de toda essa história, de todo esse amor que você recebeu de tanta gente, filho. A ajuda financeira foi incrível, mas a ajuda em forma de oração, bons pensamentos e energia....essa não tem preço.

Eu tenho certeza que essa guitarra está no seu quarto hoje, quando você estiver lendo esse texto. E eu vou torcer muito pra que você se interesse em aprender a tocá-la e faça muito barulho e rock'n roll em nossa casa.

Cauê, você é muito amado, filho. Tenha certeza absoluta disso. Eu achava que eu e seu pai, além de nossos familiares e amigos mais próximos, que estávamos esperando e guardando o nosso amor pra você, mas não. Luta filho, reage. Faz o mês de março ser o melhor de nossas vidas e volta pra casa, meu amor. Tem muita gente esperando e guardando muito amor pra você.

Eu te amo, meu guerreiro, meu bebê lindo. Ou melhor, todos amamos você.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

"Meu amorzinho", nossa médica do corpo e do coração




Oi meu amor,


Esse vídeo lindo aí acima foi feito no dia 13 de fevereiro de 2015. Essa foi a primeira vez que você usou uma roupa em sua vida, após 81 dias de nascido. Isso é um acontecimento tão simples para mães de bebês que não vão para a UTI, mas pra mim foi um momento muito sonhado e desejado. Até esse dia, tudo que eu pude escolher foram suas luvinhas e meias e na primeira vez que me deixaram escolher isso, eu chorei emocionada.

E sabe quem é essa mulher linda que está te vestindo e conversando contigo cheia de amor? É a Dra. Karla, bebê lindo. Ela é a sua neonatologista. Esse é o nome dos médicos que cuidam de bebês que nascem antes do tempo, os prematuros, e ficam onde você está, na UTI neonatal.  Eu pedi a ela uma autorização pra você usar uma fantasia no carnaval e ela não só deixou, como vestiu você. Seu pai registrou o momento e ela me chamou pra te ver. Eu senti meu coração bater tão forte quando te vi, Cauê. Você ficou tão lindo de azul, de super bebê Cauê!!

Não foi combinado que ela te vestiria, mas pra mim isso foi tão significativo. Isso porque ela é muito importante em nossas vidas, filho. Na minha e na sua. Muito mais importante do que ela ou qualquer outra pessoa possa imaginar. A maioria dos médicos não acreditam em Deus, meu amor. Um dia eu tento te explicar melhor a razão disso. Mas ela não só acredita como conversa comigo por Ele. Muitos dos meus pensamentos e orações feitos a Deus foram respondidos, de alguma forma, por ela. Ela te chama de "meu amorzinho", Cauê. E eu sinto dentro do meu coração o quanto ela gosta de você.

Dra. Karla é de São Paulo, filho, a cidade do seu pai. Além de paulista, ela é corintiana, time do seu pai, e tem uma das gargalhadas mais gostosas de ouvir. Ela acredita tanto em você, filho. Ela aposta tanto em você. Dra. Karla é uma médica profissional e humana, meu amor. Ela me trata como Sandryne, mãe do Cauê e não como mais uma mãe de UTI. Ela te trata como Cauê, meu amorzinho e não como o bebê do leito 23. Ela me conhece só de olhar. Ela sabe os dias que eu estou pra baixo e os dias que eu estou cheia de energia. Ela me ajuda a te conhecer, filho. Não só pela experiência, mas pelo olhar de ternura que ela te dá.

Dra. Karla é um presente em nossas vidas, bebê lindo. Muitas vezes, ela acredita mais em você do que eu consigo acreditar. Como eu te disse antes, você saiu do oxigênio por 13 dias, mas depois voltou. Amanhã faria um mês livre do oxigênio se você não tivesse voltado a usar. Esse é um processo difícil, dolorido e que precisa de muita paciência, carinho e tentativas. E quando a gente tenta e você fica mal, eu tenho vontade de pegar o oxigênio e dar logo pra você, mas ela me acalma e me ajuda a entender que a gente precisa insistir e acreditar que você será capaz de respirar sozinho. E eu tenho certeza que esse momento vai chegar e que você nunca mais precisará de novo. E quando você puder ler esse texto, filho, respire e agradeça a Deus e a Dra. Karla. Sem ela, isso não seria possível.

Ela entrou em nossas vidas pra nunca mais sair. Eu vou lembrar dela quando você falar, quando você andar, quando você for à escola, quando você se formar, quando você se casar....em cada momento de sua vida, ela estará presente na minha memória e no meu coração. Deus se faz presente de diversas formas, Cauê. E todas as vezes que ela está naquela UTI,  pra mim é a mão de Deus num corpo humano cuidando de você.

Filho, esse blog é pra ti, mas esse recado é pra ela: "minha flor, eu sei que ainda há um longo caminho para percorremos juntos no hospital. Não desiste de Cauê, não desiste de mim, obrigada por tudo e eu amo você."

Continua lutando, meu guerreiro. 
Eu continuo esperando você e guardando todo o meu amor.


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Oitava e nona semana: sem oxigênio e dois meses





Oi meu bebê lindo,

A sua oitava e nona semana foram, talvez, as mais especiais de todo esse período. Isso porque algo que a gente esperava e desejava a muito tempo aconteceu: você saiu do oxigênio. Eu não sei se você já aprendeu isso na escola, filho, mas nós precisamos desse tal oxigênio para respirar. E como você nasceu muito prematuro, o ato de respirar é algo muito difícil de fazer porque o seu pulmão - o último órgão que amadurece quando um bebê está dentro da barriga da sua mãe - é muito frágil.

Isso aconteceu exatamente no dia 14 de janeiro de 2015. Dra Karla, a sua pediatra, me chamou para mostrar uns exercícios que seria legal eu fazer com você. Ela nunca admitiu isso claramente pra mim, mas eu tenho quase certeza que ela me chamou na verdade pra presenciar esse momento mágico. Então ela começou a me mostrar os exercícios e, de repente, ela tirou o seu cateter nasal ( o aparelho que liberava o tal do oxigênio pra você). Filho, eu vi você nascer ali. Quanto ela tirou o cateter e o monitor ( o aparelho de "televisão" que mostra como o seu coração está batendo e como você está respirando) informou que você estava respirando bem, eu me tremi inteira.

Cauê, toda a lembrança ruim que eu tinha do parto, toda aquela tensão e medo que eu nunca esqueci foram embora naquele momento. Eu orei tanto por aquilo, filho. Eu sonhei tanto com aquilo. Você passou por três tipos de aparelhos diferentes pra te ajudar a respirar e tudo que eu queria era te ver respirar sozinho. Eu sabia que havia o risco de você voltar para algum dos aparelhos por causa da fragilidade do teu pulmão e você foi um guerreiro, Cauê. Você conseguiu respirar sozinho por 13 dias. Até uma anemia te deixar mais frágil e você voltar a respirar com ajuda. Hoje, 05 de fevereiro, você continua precisando de suporte, mas você vai conseguir respirar sozinho de novo e aí estará mais forte e nunca mais precisará de aparelho nenhum. Eu confio em você, meu amor.

Outro momento lindo da gente foi o canguru que a tia da Jô nos proporcionou. Foi a primeira vez que eu senti a sua pele junto da minha e foi tão incrível, Cauê. Nenhuma incubadora, nenhum lençol, nenhuma roupa entre nós. Eu chorei emocionada, filho. Nós ficamos assim, grudados, por quase duas horas. Eu fiquei sentindo a tua respiração, o teu cheiro de um jeito único. Um amor tão grande tomou conta de mim. E coincidência ou não, eu estava com uma camisa do Pearl Jam. Essa foi quase a primeira roupa que você vestiu...rsrsrs. 

Poucos dias depois você completou 2 meses. No teu primeiro mês foi a mesma coisa: uma mistura de alegria e tristeza. Alegria pela sua vida, por estarmos juntos, mas uma dor enorme por você ainda estar na UTI, por continuarmos, de toda forma, separados, por eu não poder ter e viver com você o que seria natural estar vivendo. Não é fácil, bebê lindo. Eu e seu pai nos comprometemos a só te dizer por aqui o que for bom - e você pode ter certeza que nós estamos cumprindo - mas às vezes eu sinto que preciso desabafar com você. Às vezes eu acho que só você me entende. Eu e você temos as mesmas necessidades e dependência um do outro. Deve ser por isso. Por isso eu te peço tanto pra lutar e não desistir da sua vida, pois a sua vida já é a minha também. 

Meu amor, eu te amo tanto. Eu daria tudo na minha vida pra você não sofrer mais. Eu faria tudo pra sentir todas as suas dores por você. Eu sei que está difícil pra você, mas você vai conseguir, meu bebê lindo. Também está muito difícil pra mainha porque quando você está bem, eu estou ótima, mas quando você está mal, eu estou péssima. Mas eu não vou me entregar, mesmo uma tal de depressão querendo vir me pegar. Não se entrega também, filho. Luta, reage e vamos confiar em Deus e no amanhã. Dias e notícias melhores virão.

Eu continuo te esperando e guardando todo o meu amor. Nunca duvide disso.


sábado, 17 de janeiro de 2015

Sexta e sétima semana: o primeiro quilo e o ano novo



Oi meu bebê lindo,

Quando eu percebi que não conseguiria te escrever toda semana, eu falei para o seu pai que eu decidi te contar os fatos mais bonitos e importantes do período que eu "ficaria longe daqui" . É essa a memória que eu quero que você tenha dessa época e também são esses os momentos que eu e PR queremos guardar. Por isso, hoje eu deveria te contar sobre as nossas duas últimas semanas do ano de 2014, mas quando eu lembro desses dias, o que me leva a suspirar de alegria e faz o meu coração bater mais forte foram dois acontecimentos muito especiais que conquistamos no mesmo dia: o seu primeiro um quilo e a primeira vez que eu e seu pai vimos e tocamos em você juntos. 

Como eu te falei, você nasceu com 760g, meu amor, mas depois você perdeu um pouco de peso e chegou a 695g. E numa UTI neonatal - o local onde você está agora sendo muito bem cuidado - o desejo e a expectativa por cada grama é muito grande. É que lá no hospital (e em quase todos os outros), um bebê só pode sair desse local quando atinge entre 1.800kg e 2kg. Por isso, todos os dias as tias em forma de anjo pesam os bebês e eu sempre perguntava o seu peso. Só que bebês prematuros ganham peso muito devagar e você ainda foi um prematuro extremo, filho. Ou seja, nasceu com menos de 1kg e isso torna tudo ainda mais difícil. E eu juro que eu estava tentando lidar numa boa com as perdas de suas gramas , Cauê. Como algo que faz parte da prematuridade e tal, mas com o passar - lento - do tempo, eu fiquei cada vez mais aflita e ansiosa com isso. É que cada grama a menos é como se fosse um tempo a mais para continuarmos distantes fisicamente e isso é ruim demais de sentir, filho.

Por isso, eu passei a perguntar o seu peso só uma vez por semana. Assim eu só saberia a média da semana e não acompanharia tanto as perdas. Mas o seu pai continuou sabendo todos os dias e após 37 dias, você chegou no tão sonhado 1kg. Três dias antes o seu peso era 995g. Nesse dia eu tive que sorrir....você não podia ter ganho cinco graminhas a mais? Sua pediatra Dra Karla e as tias da UTI disseram que você estava tirando onda com a gente. Mas não, você não podia ter ganho mais cinco graminhas porque o seu ritmo, o seu tempo é outro e todos nós temos que aprender a respeitar e a lidar bem com isso. E nós estamos aprendendo, bebê lindo. Pode ter certeza disso!

Você esperou o último dia do ano para atingir esse marco em nossas vidas, Cauê: 31 de dezembro de 2014 foi um dia de festa. Como de costume, nós chegamos no hospital e eu fui tirar leite pra você e o seu pai foi te ver. Cinco minutos depois, eu recebi uma mensagem dele com a notícia: 1kg!! Eu pulei sentada na cadeira, filho. Comecei a chorar ali mesmo, sozinha, e agradeci a Deus. Quando saí da ordenha, eu e seu pai nos encontramos e nos abraçamos muito emocionados. E ao te ver, eu mal conseguia te tocar, meu amor. Eu estava tremendo de tanta alegria. Na hora do almoço, nós saímos do hospital e compramos uma mini torta e uma vela com o número 1 pra comemorar com os seus avós, padrinhos, sua bisavó Lídia e sua tia avó Peta. Foi tão lindo, filho. Todo mundo pulando, chorando de alegria....uma emoção tão gostosa de sentir.

E à noite, eu, seu pai e sua dinda Dani voltamos para o hospital para passar o reveillon com você. Sim, mesmo sem poder te ver, a sua dinda foi com a gente só pra ficar mais perto de ti. E filho, talvez hoje, ao ler esse texto, você já perceba o quanto a sua dinda é "disputada". Dani teria uma dezena de lugares com festas e fogos pra passar o reveillon, mas ela quis ficar com a gente, bebê. E essa foi a primeira grande prova de amor dela por ti. Eu fiquei muito tocada com a atitude dela e se é que era possível, eu acho que passei a amá-la ainda mais.

E nós fizemos a nossa festa no hospital, pois além de nós, outros pais de bebês da UTI também decidiram ficar com seus filhos na chegada de 2015. Aí na foto acima estão Letícia e Neto (pais de Duda), Ronailda e Hermanny (pais de Hermanny Filho) e Giselle e Nino (pais de Henrique). Cada casal ficou responsável por levar alguma comida e bebida e fizemos uma verdadeira ceia. Depois eu vou escrever um texto só pra te falar deles e da amizade que criamos pela dor e pelo amor por vocês. Antes das 22hs estavam todos lá, conversando, comendo e felizes, filho. Vocês estavam vivos e lutando pela vida e isso era tudo que importava pra gente naqueles últimos instantes do ano. E assim, quinze minutos antes da meia noite, o hospital, numa decisão inédita, deixou os pais entrarem juntos na UTI e ficarem com seus bebês por meia hora. Eu e PR não te colocamos nos braços, mas tocamos em você. Cada um numa janela da incubadora com as nossas mãos se encontrando e te curtindo . Foi tão mágico, meu amor. Eu desejei tanto esse dia!!

Perto da meia noite, as tias em forma de anjo disseram palavras lindas e a médica de plantão, Dra. Adriana, disse que nunca tinha vivido aquilo em muitos anos de profissão e que tinha certeza que todos sairiam vencedores dali porque vocês eram verdadeiros guerreiros. Todos nós oramos, choramos e desejamos feliz ano novo uns aos outros. Eu fiquei arrepiada do início ao fim, meu amor. Havia uma energia muito linda ali dentro. Eu nunca esquecerei dessa noite. Nunca!! E 2014 terminou com um saldo de alegria e gratidão, filho. Foram dias muito difíceis, mas você estava ali. Nós sabemos que a jornada será longa, Cauê. Eu não sei quando será o dia em que eu vou te trazer pra casa, mas podemos olhar o lado bom: nós estamos vivos e juntos. E eu e o seu pai estamos e estaremos sempre ao seu lado, meu amor. E assim continuaremos "desde o fim até o começo". 

Eu te amo, meu bebê lindo. Incrivelmente, cada dia mais.